Gelo: quando e como usar na recuperação de lesões
O hábito de colocar uma bolsa com gelo em determinada área do corpo quando surge uma dor é bem comum e tem benefícios reais.
Nosso corpo está sujeito a agressões variadas durante as atividades do dia a dia. Podemos sofrer traumas ou até mesmo contrair alguma doença infecciosa, bacteriana ou viral. Em reação a essas agressões, produzimos respostas inflamatórias para destruir os agentes agressores. O processo inflamatório gera um aumento do fluxo sanguíneo no local da lesão, para onde as células de defesa são direcionadas. Essas células de defesa, no entanto, não conseguem diferenciar muito bem das células do organismo e os agentes agressores, o que pode causar novas lesões no local acometido ou agravar a lesão original.
Entre os desconfortos que podem ser reduzidos com o gelo, estão:
- Dor
- Inchaço (edema)
- Vermelhidão (rubor)
- Aumento da temperatura local
- Diminuição da função do membro ou da articulação
Apesar de ser um mecanismo de defesa do organismo, a inflamação (com seus sintomas clássicos, como dor, edema, calor e vermelhidão) deve ser controlada. Para obter esse controle, podemos recorrer, por exemplo, aos remédios anti-inflamatórios. Estes, no entanto, pelos seus efeitos colaterais, não devem ser utilizados além dos sete dias após o trauma. Técnicas de crioterapia (tratamento á base de gelo) também são muito utilizadas nesses casos. Elas diminuem o metabolismo e a atividade tecidual, inclusive de vasos e nervos, provocando uma vasoconstrição. A pele rapidamente fica pálida, pois há uma diminuição do fluxo sanguíneo local e, por consequência, uma redução de chegada das células inflamatórias e de todo o processo.
Como usar o gelo em lesões
O uso do gelo na área afetada pode ser feito de diferentes formas. De acordo com o fisioterapeuta Kleber Ramos Nicolodi alerta apenas sobre o cuidado de fazer a aplicação em ciclos de 15 a 20 minutos a cada hora num prazo máximo de 72 horas (período da inflamação), sempre utilizando algum material para proteger a pele, como plástico ou tecido.
Alguns possíveis usos do gelo em lesões são:
- Bolsas com gelo
- Bolsas de gel congelado
- Bolsas químicas
- Imersão em água gelada
- Massagem com gelo
- Sprays com efeito congelante
Se o usado de forma continua, sem interrupção, o gelo pode agravar ou causar novas lesões no local, como queimaduras. Por isso, preconizamos o uso por 20 minutos. O processo então deve ser retomado após uma hora. Kleber ressalta que o segredo do gelo não é o uso prolongado, mas sim a repetição do processo inflamatório.
Citamos 4 fases do processo inflamatório:
- Alteração do calibre e fluxo vascular: que gera calor e vermelhidão.
- Permeabilidade vascular aumentada: que gera o inchaço.
- Migração de leucócitos: chegada das células de defesa do sangue ao local de infecção.
- Quimiotaxia e fagocitose: combate aos reagentes agressores, que pode levar á cura ou gerar uma inflamação crônica, dependendo do caso.
O protocolo de tratamento inicial para lesões musculares e articulares agudas PRICE (Protection, Rest, Ice, Compression and Elevation) que em português fica Proteção, Repouso, Gelo, Compressão e Elevação, segundo o Jornal Britânico de Medicina Esportiva, deve ser atualizado para POLICE. Em vez do “R” de repouso, o melhor seria o “OL” (Optimal Loading) que quer dizer Carga Optimizada.
Embasado fisiologicamente e biomecanicamente, e como tem sido comprovado através de estudos, a Carga Optimizada produz uma reabilitação melhor e mais rápida através de mobilizações passivas leves, contrações isométricas e pequenas descargas de peso, respeitando o processo de cicatrização, isto, nada de forçar demais…
O POLICE já vem sendo utilizado com sucesso em vez do PRICE por importantes equipes esportivas profissionais de várias modalidades na Europa.
No entanto, em muitas das situações descritas anteriormente, é possível procurar fisioterapeuta especialista para iniciar um tratamento e, sobretudo, a prevenção de um problema.
Artigo original: PRICE needs updating, should we call the POLICE
C M Bleakley1,3, P Glasgow2,3, D C MacAuley4
Br J Sports Med 2012;46:220-221 doi:10.1136/bjsports-2011-090297
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